Underdark - Prólogo
É noite em Suzail. Não há ninguém nas ruas da cidade, exceto os Dragões Púrpura. Os soldados de Sua Majestade são diligentes em serviço. Não há um canto da capital sem vigilância, e nenhum dos distritos dorme inseguro. Dois amigos, Darvin e Morn, são soldados da guarda real. Jovens, sempre sonharam com a carreira militar. A honra de vestir o símbolo que outrora acompanhou Azoun IV era muito grande. Eles cresceram com as histórias do heroísmo de seus reis, especialmente aquela que narra a batalha do Dragão Vermelho. A fatídica batalha.
"Você ouviu alguma coisa?" Perguntou Darvin.Eles fazem a segurança de um dos mais importantes acessos ao Palácio. A responsabilidade de ambos é muito grande, mas é exatamente isto o que eles querem. Darvin, principalmente, tem o sonho de tornar-se um dos famosos Cavaleiros Dragão Púrpura. Morn é mais simples. Quer apenas servir o seu rei. Acha que cada um nasce com um papel determinado no mundo, e tentar mudar esta definição é perda de tempo.
"O que?" Respondeu Morn.
Eles faziam a patrulha nos jardins do palácio real. Na verdade, era um lugar tranquilo, porque haviam postos de vigília antes dele. Ou seja, para que alguém chegasse ali, teria que passar primeiro por um grande número de guardas. Mas também significava que, quem quer que chegasse ali, já teria passado primeiro por um grande número de guardas. Há apenas alguns metros, atrás de um grande porta de madeira de lei, ficava um dos salões do palácio. O primeiro salão da residência da família real. Entrar ali significava estar a poucos metros dos aposentos de Sua Majestade, o Rei Foril.
"Eu acho que tem alguém aqui." Darvin se moveu até o arco norte, que dava acesso ao pátio leste. Olhou para os lados, depois para cima.
"Eu não ouvi nada".
"Você não ouviria nem um dragão vermelho cuspindo fogo, Morn! Nunca vi ninguém tão desatento!" Darvin parecia mais conformado. Como não encontrou nada demais no outro pátio, achou melhor deixar pra lá.
Caminhou na direção do amigo. "O que foi?"
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Os dois meninos corriam pela floresta.
Não era uma floresta qualquer, mas sim a Floresta do Rei. Era proibido o acesso livre aquele lugar, mas Morn e Darvin adoravam visitá-lo. Eles quase sempre iam até a parte onde sabiam que os kobolds estavam. Gostavam de observar aqueles "monstros", como seus pais os chamavam. Neste dia, um dos kobolds os ouviu entre as árvores. Antes que pudessem pensar, mais três deles surgiram e avançaram em sua direção. Os garotos, aterrorizados, correram.
Darvin escorregou pelo barranco, tentando ganhar tempo. Correu por entre as árvores, o máximo que podia. Ele era muito rápido, mas sempre tentava se controlar para não deixar o seu amigo para trás.Desta vez, no entanto, ele parece ter exagerado. Seu medo era tão grande, que ele correu desesperadamente. Agora, procurou pelo som dos passos de Morn, mas não os encontrou. Estava com medo de parar ali na floresta. Também não queria olhar para trás. De repente, tomou um susto. Um kobold tinha sido mais rápido do que ele, e pulou a sua frente, emboscando-o. Ele congelou. Não sabia o que fazer. O "monstro" estava com uma adaga na mão direita.Olhava ameaçadoramente para o pequeno Darvin, que estava encostado numa árvore, tremendo de medo.
"Siat nae haos zeanet", disse o kobold. Darvin não entendia aquela língua.
"Varab mecat loex!"
Ele não sabia exatamente o que o "monstro" tinha dito, mas tinha certeza de que não estava sendo amigável. Tentou fugir, mas suas pernas não obedeciam. Estava com muito medo para fazer qualquer coisa. Foi quando uma pedra acertou em cheio o rosto do kobold. Era Morn, parado há uma certa distância, tentando chamar a atenção do algoz do seu amigo. Jogou uma outra pedra, e depois correu. Tinha dentro dele que ninguém aceitaria passivamente duas pedradas na cara. E acertou, porque no instante seguinte passou a ser perseguido.
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Morn estava caído no chão, coberto de sangue. Parecia sem vida. O virote tinha penetrado profundamente a sua armadura, num tiro que certamente não tinha sido desferido por um iniciante. Era alguém que sabia exatamente o que fazia.
"Morn!" Antes que Darvin pudesse dizer qualquer outra coisa, um vulto se moveu pelas sombras, aproximando-se. Darvin sacou a espada e ergueu o escudo, mas não adiantou muita coisa. O inimigo era muito ágil. Apontou a sua besta de uma mão para o rosto de Darvin, que se defendeu com o escudo. Neste instante, como o Dragão Púrpura não podia enxergar, saltou no ar, girando por sobre ele, acertando-o com seu florete no braço do escudo. Em seguida, um tiro de besta na perna, em cheio na parte frágil da armadura. Era um pesadelo. O inimigo conhecia todos os pontos fracos possíveis, e acertava todos os ataques. Darvin pensou em gritar. Mas era tarde demais.
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Darvin entrou correndo na caverna. Estava certo de ter visto o kobold e Morn entrando ali. Não podia deixar o seu amigo nas mãos do "monstro". Esgueirou-se lentamente pelo corredor escuro. Ouvia apenas o barulho de água pingando. Tinha que andar devagar, porque o solo era muito irregular e ele estava descalço. Algumas daquelas pedras eram bem pontiagudas. Como ele estava todo sujo de lama, a superfície ficava ainda mais escorregadia. Por um instante, Darvin moveu sua mente para fora daquela caverna. Começou a pensar no que sua mãe diria quando o visse todo sujo.
"Seu porco comedor de minhocas! Eu vou lavá-lo com bafo de dragão negro!", Diria ela, certamente.
Ele não entendia muito bem. Até onde sabia, os dragões cuspiam fogo. Não serviria para tomar banho. Mas não questionaria a sua mãe por nada no mundo! Isso só iria piorar as coisas, e a faria dar com a vassoura em sua cabeça. Ela já tinha feito isso várias vezes, e quebrou no mínimo umas quatro ou cinco vassouras. Seu pai vivia dizendo para ela parar com aquilo. Não que ele estivesse com pena dele. Apenas não queria sair para comprar uma vassoura nova todo mês.
De repente, Darvin retornou à realidade da caverna. Sentiu que havia pisado em sangue.
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Belendithas estava parado em cima da poça de sangue que cercava o corpo de Darvin. Abaixou-se, procurou alguma coisa nos bolsos do soldado falecido. Ergueu-se, e seu rosto coberto pelo manto preto apenas deixava transparecer um leve sorriso de vitória. Em suas mãos, uma chave. Aproximou-se da porta de entrada para o salão e introduziu a chave na fechadura. Alguma coisa estava errada, entretanto. A porta não abriu. As instruções que recebera eram específicas. A chave era exatamente como lhe fora descrita.
Mas Belendithas não podia ficar ali perdendo tempo. Era experiente o suficiente para saber lidar com os imprevistos. Olhou para cima. Viu várias janelas. Tentou se lembrar do mapa que lhe havia sido fornecido. Conseguiu visualizar com precisão todo o andar dos dormitórios. Ele precisava chegar na penúltima janela, mas não tinha tempo para uma escalada. Notou, porém, que havia uma passagem bem pequena no segundo andar. Se ele se lembrava bem da planta, aquilo deveria ser uma espécie de duto de ar. Belendithas deu um passo atrás. Guardou suas armas. Seu manto fechou-se, cobrindo todo o seu corpo. De repente, ele jogou a capa para trás, e rapidamente moveu-se pela parede do palácio. Saltava e escalava ao mesmo tempo, como um acrobata de circo. Como uma sombra negra, passou
rapidamente pelo buraco no segundo andar. Ele havia conseguido. Estava dentro do Palácio Real do Dragão Púrpura.
No pátio, sangue. Envolto a uma poça, o corpo sem vida de Darvin. Alguém parou ao seu lado, observando-o.
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Morn estava deitado no chão, no meio de uma poça de sangue. Darvin, parado ao lado do amigo, observava-o.
"Morn! Acorda!" Disse o pequeno. Mas seu amigo não levantava. Estava ferido de verdade. Darvin virou-o de frente, e percebeu que na sua barriga havia um corte muito grande. Ele precisava levá-lo de volta à Suzail agora. Mas não tinha forças. Seus braços eram muito fracos. Sentou-se então, e começou a chorar. Tudo aquilo era culpa dele. Era ele quem sempre insistia em entrar na Floresta do Rei. Morn sempre dizia que era perigoso, mas ele nunca o ouvia. "Você é um medroso, Morn!".
Ambos tinham a mesma idade - 9 anos. Haviam se conhecido há uns 2 anos atrás, quando o pai de Morn, um ferreiro, mudou-se para Suzail. O pai de Darvin servia o Rei Foril como soldado Dragão Púrpura. Desde então, tornaram-se amigos inseparáveis. Brincavam juntos o dia inteiro. Isso quando Morn não tinha que ir à forja ajudar o seu pai. Ele estava sendo preparado para ocupar o seu lugar, e assumir os negócios da família. Mas ele admirava mesmo o pai de Darvin. Queria ser um Dragão Púrpura, defender o rei.
Os seus prantos na caverna foram interrompidos por passos. Ele ergueu a cabeça. Viu o kobold há poucos metros de distância, com uma adaga na mão. Ela estava toda ensanguentada - provavelmente com o sangue do seu amigo. O "monstro" chegou perto de Darvin, que gritou. Mas o kobold não ligava.
"Sicat nevala andir. Nemeconi vrandat malit!"(Não adianta gritar, sua menina. Ninguém poderá te ajudar agora!)
Colocou a adaga na barriga de Darvin. Por reflexo, o menino deu um tapa na cara do kobold, que o largou. Em seguida, o pequeno, com medo, deu um encontrão contra o "monstro", que tropeçou e caiu num pequeno alçapão. Havia uma abertura na parte debaixo. O kobold passou por ela, e saiu numa espécie de salão inferior. O menino aproximou-se de uma brecha na parede, de onde conseguia ver o lugar.
O kobold avistou uma rampa. Correu na sua direção. Mas não conseguiria chegar até lá nem que voasse. Subitamente, um enorme vórtex de fogo o cobriu, carbonizando-o. Um dragão vermelho surgiu, do meio das sombras. Darvin, que observava a tudo pela fresta no andar superior, estava congelado. Ele era ainda um menino, e nunca tinha visto um dragão. Que dirá um dragão vermelho. Que dirá um daquele tamanho. Era enorme. Colossal. Pelas suas pequenas pernas, escorreu urina. Ele tinha literalmente se mijado de medo.
O cheiro da urina imediatamente atraiu o dragão. A fresta era muito pequena, mas a criatura pode ver o pequeno ali, parado. Seu enorme olho era quase do tamanho da criança! O dragão afastou-se um pouco, e urrou contra o garoto. Imediatamente ele começou a chorar copiosamente. Não conseguia se mexer, entretanto. A fera aproximou-se da fenda, e tentou quebrar a rocha. Não tinha ângulo para um golpe forte, porém. Cruel como só um dragão vermelho pode ser, postou sua boca bem na entrada daquela brecha. Iria torrá-lo.
Pouco antes do fogo começar a lamber aquela rocha, Morn empurrou o seu amigo. Estava fraco e ferido, mas conseguiu evitar que as chamas consumissem Darvin. Mas,embora tenha conseguido agir bem rápido, no instante em que ele passou na frente da fenda para defender o amigo, foi atingido de raspão pelo fogo. Metade do seu tronco agora estava em carne viva. Morn não resistiu, e desmaiou. O dragão parou bem próximo aquele pequeno buraco.
"Você é fraco, garoto. Vamos deixar assim por enquanto. Mas sua morte é inevitável. Você não é forte o bastante."
As palavras do dragão, em um tipo de chondathan bem arcaico - era como se o seu avô estivesse falando -, marcaram Darvin. Segurando Morn por sobre os ombros, ele deixou aquele lugar. Nunca mais os garotos retornaram a Floresta do Rei.
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Belendithas estava há poucos metros do aposento real. Já havia conseguido chegar ao andar da residência, depois de um pequeno imprevisto com a chave da porta principal. Faltava agora terminar o serviço. Ouviu passos. Ele mesmo não sabia quem era o mandante. Sem dúvida era muito ousado, mas ele não temia. Além do mais, o seu preço estava sendo pago integralmente, de forma adiantada. Isso mesmo depois do reajuste. Claro, porque este não era um serviço qualquer. Matar um nobre é uma coisa. Mas matar o príncipe herdeiro da maior coroa de Faerûn...era temerário! Os passos se aproximaram. Ele olhou para os lados – não viu nenhum lugar onde pudesse se esconder. Pensou em subir no lustre de velas, feito de madeira, que ficava pendurando no teto. Seria uma burrice, já que sua sombra estaria refletida no chão. Mas ele precisava tomar uma decisão. E tinha que ser naquele instante.
“Acho que você deveria investir em temperos.” Disse um dos guardas ao seu companheiro. Ele era o mais velho dos dois. Aparentava ter pouco mais de quarenta anos.
“Mas eu não tenho nem idéia de como se começa um negócio destes. Prefiro comprar um pedaço de terra e cultivar. Não tem muito segredo.” Respondeu o mais jovem dos soldados dragão púrpura. Ele era bem calvo para a idade, mas ainda assim bem afeiçoado. Ambos vestiam cotas de malha, e a túnica púrpura com a insígnia do dragão no peito. “Espere.” Disse ele. Em seguida, sussurrou para o seu colega. “Eu acho que ouvi algo vindo de dentro do duto de ar”.
Eles sacaram suas espadas longas bem devagar, evitando ao máximo o barulho da lâmina contra a bainha. Em seguida, o guarda mais velho tomou a liderança. Fez um sinal para que seu companheiro se colocasse de lado a pequena porta de madeira que fechava o duto. Os dois se entenderam imediatamente. O mais jovem abriria a porta, e o mais velho atacaria. Eles contaram. Um... dois... TRÊS!
Nada.
O mais velho olhou para o mais novo. “Tem certeza de que ouviu alguma coisa?”
“Sim.” Disse ele, com firmeza na voz.
O mais velho coçou a cabeça. “Vamos chamar os Arcanos de Guerra. Feche a porta.”
Antes que o jovem soldado pudesse cumprir a orientação do seu supervisor, Belendithas agiu. Chutou violentamente a porta de madeira que estava se fechando, atingido o rosto do dragão púrpura. O momento não era de hesitação. Ele era um assassino. Sabia que certos trabalhos tinham que estar bem próximos da perfeição. Levantou-se, decidido. O soldado mais velho pareceu surpreso com o seu ataque. Ele sabia como tirar vantagem daquela fração de segundos. Apontou a besta contra o seu rosto e atirou. Friamente. O soldado caiu morto no chão no instante seguinte. O mais jovem olhou aquilo e encheu os pulmões de ar. Ele iria chamar reforços. Sem perder tempo, Belendithas afundou o seu florete na traquéia do dragão púrpura. Morte agonizante. Ele agora tinha que seguir caminho. Não tinha tempo de esconder aqueles corpos, e em breve alguém os veria ali. Neste instante, ele sabia que teria apenas alguns segundos para deixar o palácio. Moveu-se rápido.
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Morn estava muito ferido, e continuava perdendo muito sangue. Mas não tinha tempo para tratar dos ferimentos. Procurou o sinalizador no corpo de Darvin. Seu amigo Darvin. Morto nos jardins do Palácio Real do Dragão Púrpura. “Ele morreu como um soldado.” Ele pensou. Foi tudo o que ele se permitiu pensar sobre o assunto naquele momento. “Preciso me concentrar”.
Ele não estava achando o sinalizador. Era um pequeno amuleto, imbuído de magia pelos arcanos de guerra e entregue a todos aos guardas de maior graduação nos postos de vigília. Darvin era mais graduado do que ele. Ambos eram igualmente competentes. A diferença era que o seu pai era um velho ferreiro, enquanto o de Darvin era um falecido dragão púrpura. Não. Na verdade, era mais do que isto. Era um falecido dragão púrpura, morto em campo de batalha, defendendo o nome de Sua Majestade, o Rei Foril. Morn não achou o sinalizador. “Droga!” Pensou. Ele teria que correr. Ou até o barracão, onde alertaria a guarda, ou até a torre dos arcanos de guerra. O barracão era mais perto, mas ele sabia que somente uma pessoa tinha poder suficiente para evitar aquela ameaça: “O Mago de Gelo”.
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Belendithas estava parado em frente a porta dos aposentos do príncipe herdeiro Irvel. Atrás dele, seis corpos mortos, de guardas. A manhã seguinte seria de muito lamento em Suzail. E ele queria transformar a data num dia que Cormyr jamais esqueceria. Retirou de dentro de seu manto um pergaminho. Em voz baixa, leu-o, bem lentamente. Parecia escrito em elfo.
“Ne me raia, lavaesca. No moetir siscafar. Beshaia romandor el eti lamavael.”
Lentamente, a porta começou a revelar símbolos em espruar. Eles brilhavam, como ouro reluzente. De repente, sumiram. O assassino agora postou suas mãos na porta, e empurrou-a, levemente. A porta dos aposentos do príncipe Irvel se abriu.
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Morn estava pálido. Continuava perdendo muito sangue, e o esforço físico o estava esgotando. Ele não foi a torre dos arcanos de guerra. Também não foi ao barracão dos dragões púrpura. Ao invés disso, procurou diretamente a residência do arquimago do rei. Ele conhecia uma entrada segura. Uma entrada de serviços, onde a jovem empregada do mago tinha sua residência. Ele bateu na porta, com pressa. Bateu uma segunda vez. Uma terceira. Ficar parado na frente da porta não estava lhe fazendo bem. Sua cabeça começou a girar. Imagens dele e de Darvin vieram-lhe a mente. Ele se lembrou de sua infância, da caverna do dragão, da dor da queimadura, das corridas pela floresta, das vassouradas na cabeça...
“Morn!” Gritou Caeline. Ela era a empregada do mago. Estava ali parada na porta há alguns segundos. Já estava dormindo quando ouviu alguém, apressado, batendo a sua porta. “Só podem ser Morn ou Darvin.” Pensou. “O que será que eles querem?” Quando abriu a porta e viu o seu amigo coberto de sangue, pálido, e quase perdendo a consciência, teve certeza que era algo MUITO sério.
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Belendithas não tinha tempo a perder. Aproximou-se rapidamente do leito do príncipe e atirou. Uma... duas... três vezes. Para se certificar, cortaria a garganta de Sua Alteza. Mas, quando levantou o lençol, uma surpresa. A cama estava vazia! Antes que ele pudesse reagir ao choque daquela falha colossal, um relâmpago atravessou a sala, iluminando-a, e atingiu-o em cheio. Ele foi arremessado contra a parede. Do outro lado da sala, estava aquele que tinha vindo para derrotá-lo. Com um cajado branco nas mãos, o vulto se moveu. Belendithas já tinha ouvido falar dele. O MAGO DE GELO. Arquimago de Guerra de Cormyr. O assassino teve medo. Certamente aquele era o seu fim. Mas... algo estava errado. ERA UMA MULHER! Uma jovem, de pouco mais de uns 20 anos. Ela se vestia como uma serviçal.
Belendithas entendeu. Não era o mago. Era apenas uma menina com o cajado dele. Procurou sua espada, que tinha caído quando ele fora arremessado pelo relâmpago. Com a confiança restabelecida, ergueu-se do chão. De dentro de seu manto negro, podia-se notar um discreto sorriso. Olhou a sua espada. Estava ao pé da cama do príncipe. No meio do caminho entre ele e a menina. Entre ele e o cajado, que era o que ele temia. Belendithas conhecia um pouco os poderes arcanos. Sabia que um implemento mágico podia guardar grandes poderes. Mas também sabia que isto consumia muito do item, e estes poderes não podiam ser utilizados livremente. Além disso, como assassino, ele sabia que o segredo do combate estava em conhecer a postura do seu oponente. Em ler os seus olhos. Aquela jovem não demonstrava tanta confiança. Ele então se moveu.
Caeline sorriu.
Todo homem cai no truque da garota assustada. Sempre. Ela sabia disso. Sejam magos, generais, ou assassinos experientes, todos eles subestimam o seu poder. Não importa a experiência que tenham. Belendithas moveu-se acreditando ser mais rápido do que “a menina indefesa”, e imaginando ser possível acertá-la com seu florete antes que ela pudesse reagir. Mas ela já tinha antecipado o movimento. Por isso preparou a sua magia. No instante em que ele fez a sua acrobacia para agarrar a espada e espetá-la contra ela, os olhos da menina brilharam.
“Naeman solus”. Disse ela, em elfo. As palavras saíram de seus lábios como vento glacial. Uma fumaça branca, gélida e densa escorregou de seus lábios, desceu por seu corpo numa fração de segundos e, como tentáculos, agarrou o assassino. No instante seguinte, as pernas e os braços do assassino estavam congelados. Belendithas olhou para a jovem, incrédulo. Ela se aproximou dele. Bem lentamente. Olhou dentro de seus olhos. “Agora, vamos construir um esquife de gelo para você... DROW!”
A batalha estava perdida. Belendithas havia falhado. Mas a morte já havia lhe cercado outras vezes na vida, muito embora ele não a visse tão de perto há muitos anos. E a verdade é que um assassino não vive só da acuidade da sua pontaria. Ele precisa ter a habilidade de se esquivar e se ocultar na hora certa.
“Ne mian.” Sussurrou.
“NÃO!” Gritou Caeline. Como num piscar de olhos, o assassino tinha sumido. Provavelmente utilizando-se de algum item mágico de teleportação. A jovem aprendiz olhou pela janela. Belendithas era um assassino experiente, mas não era tão poderoso assim. Dificilmente possuiria um item arcano de teleportação de grandes distâncias. Estes eram raríssimos.
“GUARDAS!” Gritou ela. Os primeiros dragões púrpura já estavam no aposento quando ela começou a procurar por sinais do assassino no pátio.
“Sim, Caeline.” Eles a conheciam como empregada do grande arquimago. Estavam impressionados em vê-la portando o cajado do Mago de Gelo. Sua figura era... imponente.
“O assassino não pode ter ido longe. Fechem os portões de Suzail e...”
Caeline percebeu que o seu tom de voz subiu demais. Estava falando como uma Arcana de Guerra, o que ela não era. Era apenas a serva do grande arquimago. “...eu sugiro... que vocês fechem os portões de Suzail e comecem a procurar no subterrâneo. Ele deve ter ido pra lá.”
“Como você tem tanta certeza?” Perguntou um soldado.
“Porque nós vamos aonde nos sentimos mais seguros quando somos atacados. E ele era um drow.”
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Da janela do quarto do príncipe, a bela Caeline, com seus olhos azuis e cabelos dourados, contemplava o pátio. Podia ver seu amigo Morn ajoelhado na poça de sangue de Darvin, chorando a sua morte. Ela também começou a chorar.