Este post foi originalmente publicado no blog "Nitro Dungeon", que é referência na rede para qualquer DM que se preze e busque melhorar suas "skills" narrativas. Ele foi escrito pelo excelente Newton Rocha, um cara que já atingiu há muito tempo o 8º sentido rpgístico (sim, 8º sentido...vejam a "Saga de Hades", onde Shaka atinge o 8º sentido, hehehe). Óbvio, o "Nitro Dungeon" está entre os links dos blogs que eu recomendo. http://newtonrocha.wordpress.com/
Recompensas por boa representação em jogos de RPG podem sempre ajudar e estimular os jogadores. Pontos de Narrativa seriam pontos que podem ser usados para melhorar rolagens de dados ou para dar um bônus extra nas ações dos personagens, tanto em combate quanto em situações para serem resolvidas em interpretações. No final do texto estão alguns exemplos para D&D 3.0, 3.5 e 4.0, Daemon e Storyteller/Storytelling. São apenas sugestões e cada mestre deveria criar sua própria forma de dar bônus para os jogadores, premiando interpretação de personagem.
Eu pensei nessa idéia de Pontos de Narrativa para a minha campanha de D&D e Forgotten Realms 4ed, “O Império das Sombras”. Para evitar desbalanceamento entre os personagens (algo que sempre complicou as nossas campanhas de D&D 3.0 e 3.5) decidi que o grupo iria evoluir junto, e todo mundo ficaria no mesmo nível, sempre!
Inclusive, se um personagem morresse, o novo personagem entraria no mesmo nível dos demais, para evitar problemas e facilitar minha vida como mestre (com todos no mesmo nível, fica mais fácil montar encontros, colocar desafios, etc.). Sempre achei que a perda de um personagem legal já é algo ruim demais para o jogador, e se, além disso, você colocar uma penalidade de experiência é juntar o ruim com o desagradável (algo como a eleição para prefeito em BH desse ano heheehe!).
O problema é que não posso mais presentear com os pontos de experiência, para não diferenciar os personagens. Assim, me inspirando nos Fate Points do sistema gratuito Fate (confiram!), imaginei os Pontos de Narrativa (que vou testar na sessão desse fim-de-semana).
MECÂNICA DOS PONTOS DE NARRATIVA
A idéia é simples. Em uma sessão, toda vez que você achar que um jogador representou bem, dê a ele um ponto de narrativa. Conceda o ponto depois da cena, em um momento que não irá prejudicar o fluxo da interpretação. O melhor jeito de dar pontos de narrativa seria usando algum tipo de marcador: contas, pedrinhas, marcadores de Magic ou fichas de poker (que é o que eu irei usar nesse fim-de-semana).
Você pode dar no máximo 3 pontos de Narrativa para cada jogador em uma sessão de jogo.
Eles podem usar os pontos de narrativa como bem entenderem, porém, quando eles acabarem, o jogador terá que se esforçar novamente na interpretação para ganhar novamente.
Cada jogador só pode ter no máximo 3 pontos de Narrativa (em jogos épicos, pode-se aumentar para 5 o valor máximo de pontos de Narrativa de um jogador).
O jogador só pode usar um ponto de narrativa por rolagem de dados ou situação única de interpretação.
O ponto de narrativa tem que ser usado ANTES da rolagem de dados, nunca DEPOIS.
O QUE UM PONTO DE NARRATIVA FAZ
Um ponto de narrativa pode ser usado para:
1) Garantir um sucesso em uma rolagem de dados em qualquer tipo de ação, seja de combate, social, investigação, etc.
O Ponto de Narrativa substitui uma rolagem de dados, valendo a pontuação mínima necessária para que um evento seja bem sucedido. O limite máximo do valor do ponto de narrativa é o limite máximo da rolagem de dados. No caso de sistemas com base em paradas de dados, o ponto de narrativa equivale ao número mínimo de sucessos para uma ação.
O ponto de narrativa só garante sucesso se a ação estiver dentro dos limites do que um personagem pode fazer. Se a ação estiver fora do limite do que um personagem possa fazer, não se pode usar o ponto de narrativa.
2) Anular uma falha crítica.
Caso o personagem tenha tido uma falha crítica, o jogador pode usar o seu Ponto de Narrativa para anular a falha crítica, transformando-a em uma falha normal.
COMO SE GANHA UM PONTO DE NARRATIVA
O mestre deve decidir os seus próprios critérios para dar pontos de narrativa para seus jogadores. O importante é que seja por um momento especial, onde o jogador realmente se sobressaia na interpretação do seu personagem. Eu entendo como boa interpretação as ações e falas que sigam a lógica e a personalidade do personagem, e que também reflitam a realidade do jogo. A idéia é estimular a interpretação e o envolvimento dos jogadores e seus personagens com o jogo.
A idéia é que todas as pessoas possam ganhar Pontos de Narrativa, desde que se esforcem em interpretar seus personagens de acordo com a sua descrição e reagindo de maneira contextualizada com os outros personagens da aventura, sejam dos jogadores e do mestre.
Pontos de Narrativa não são premiações pela capacidade teatral do jogador e sim pela capacidade do jogador de se envolver na história e de dar vida ao próprio personagem.
Esses pontos também podem ser usado pelo mestre para incentivar ações que ele considera positivas para a mesa de jogo, como cooperação entre os personagens, elaboração de históricos interessantes, contribuições para a história que está sendo criada coletivamente, etc.
Uma sugestão de uso seria a premiação com um PN (Ponto de Narrativa) para aqueles jogadores que elaborarem históricos, ou que escreveram o diário de campanha da sessão anterior.
Lembre-se que um jogador só pode ter no máximo 3 pontos de narrativa por sessão. E terminada a sessão, os pontos não gastos são desperdiçados. Todos os jogadores começam uma sessão com 0 pontos de narrativa (exceto aqueles que fizeram diário de campanha ou alguma outra coisa interessante para enriquecer a campanha entre uma sessão e outra).
No caso de sessões mais longas (+ de 5 horas), o mestre pode continuar dando mais pontos de narrativa, desde que respeite o máximo de 3 pontos de narrativa por jogador.
IMPORTANTE: Não vulgarize os Pontos de Narrativa, eles devem ser prêmios para interpretações de personagens acima da média. E interpretação não quer dizer teatro (pois isso excluiria aqueles que não têm dotes artísticos), quer dizer agir de acordo com a lógica do personagem e de sua reação com o contexto.
Ou seja, não é fazer uma “vozinha” diferente e ficar com trejeitos, para ganhar PNs o jogador tem que participar ativamente da história que está sendo criada coletivamente, seguindo a descrição, a personalidade e os limites do seu personagem e sua reação (dentro da lógica do personagem) ao contexto em que ele está inserido. Com ou sem vozinha!
Em uma sessão com muita interpretação bem feita (algo raro hehehehe), o mestre normalmente distribuiria, em média, no máximo de 2 a 3 PNs dividido entre todos os seus jogadores. Lembrando que um jogador só pode receber 1 PN por interpretação diferenciada e interessante ou por momento dramático.
Deixe para dar os PNs entre os eventos, para não quebrar a imersão dos jogadores.
No final da partida, pode-se fazer uma votação para ver quem interpretou melhor durante a sessão. Esse jogador ganharia o direito de começar com 1 PN na próxima sessão.
SISTEMA MAIS MECÂNICO DE CONCEDER PONTOS DE NARRATIVA
Para aqueles que gostam de um sistema mais detalhado e imparcial e para evitar reclamações de jogadores mais sistemáticos (e todo grupo tem um hehehehe!) segue uma sugestão mais “mecânica” para dar PNs:
1) Exija dos jogadores que queriam ganhar PNs (todos hehehe) um histórico bem feito dos personagens. Pode ser um parágrafo. Peça para eles fazerem uma lista com 5 caracterísicas marcantes do seu personagem (personalidade, objetivos, crença, como reage ao perigo, como se dá com as pessoas, etc.).
2) Faça cards com as listas de 5 coisas e fique as cartas durante o jogo ou escreva num papel que fique ao seu alcance.
3) De os PNs quando o jogador interpretar, de maneira marcante, o seu personagem dentro das 5 características que ele passou. Ou então, preste atenção na interpretação dos jogadores e vá marcando nas cartas ou anotando no papel todas as vezes que o jogador interpretou as características. Depois de um determinado período de jogo (2 horas ou depois de completar alguns encontros/cenas), dê um PN para aquele com mais marcações.
4) Você pode estabelecer um sistema, depois de 3 marcações na lista de características do personagem ou seja depois de 4 momentos bem feitos de interpretação, você pode dar um PN. Lembre-se de valorizar o PN.
5) Perguntas para dar Pontos de Narrativas:
a) O Jogador seguiu uma ou mais características da lista?
b) O Jogador contribuiu para a narrativa seguindo a lógica do personagem e do cenário?
c) O Jogador interagiu bem com o Personagem do Mestre?
d) O Jogador evitou que o metajogo (falar da mecânica do jogo) influenciasse suas interações com os Personagens do Mestre e com os outros personagens dos jogadores?
e) O Jogador está contribuindo para a diversão do grupo?
6) Você também pode dar 1 PN inicial para todos os jogadores que apresentarem um Histórico / Background ou para aqueles que fizeram o diário de campanha entre uma sessão e outra.
O USO DE PONTOS DE NARRATIVA (PN) NOS DIVERSOS SISTEMAS (VERSÃO ALFA)
D&D 4ª EDIÇÃO
Uso em combate:
1) O PN só pode ser usado uma vez por encontro.
2) Deve ser usado antes da ação. Ele garante o sucesso da ação, desde que o personagem pudesse ser bem sucedido na ação com uma rolagem de dados (de valor até 19, excluindo o 20 natural).
3) Não pode ser usado junto com o Ponto de Ação!
Uso em outras situações:
1) O PN só pode ser usado em uma situação por vez.
2) O PN deve ser usado antes da ação. Ele garante o sucesso da ação, desde que o personagem pudesse ser bem sucedido na ação com uma rolagem de dados (de valor até 19, excluindo o 20 natural). Em caso de ações sem rolagem de danos, o Mestre deverá julgar se a ação está dentro das possibilidades do personagem. Seduzir uma camponesa é possível para um personagem de nível 1 e carisma razoável, mas para esse mesmo personagem seduzir uma deusa, é impossível. O uso do PN nesses casos garante o sucesso da ação.