Aquele mosteiro era um lugar de treinamento. Herthanael não percebera na primeira vez que estivera ali. E seus ensinamentos não estavam restritos aos dogmas da religião. Eram militares também. Aliás, pouco ortodoxos, pensou o elfo.
Não se lembrava de ter ouvido falar de um deus da Justiça que pregasse vingança e punição. Mas, de alguma forma, as palavras de Rahel começaram a fazer sentido. Num mundo onde as pessoas procuram seguir o que é bom e decente, alguém precisa ser a Mão Divina, descendo sobre aqueles que desafiam os seus desígnios.
Rahel era uma boa mentora. Com o tempo, Herthanael percebeu que ela não era tão rude. Apenas usava um escudo, que escondia suas emoções. Ela nunca lhe contou o que a fizera erguê-lo, em primeiro lugar. Aquele assunto a chateava, tanto quanto falar dos orcs e da morte da sua família, para ele. Assim, não mais perguntaria. Entendera o tipo de dor que estava no âmago daquela serva de Torm.
Com o tempo, ficaram amigos. Rahel nunca pregou Torm para Herthanael. Nunca o induziu a seguir os ensinamentos do seu deus. Nunca lhe disse que ele seria bem acolhido como seu servo. Sua forma de viver a religião era prática – ela era a punição divina. Ela sabia o que estava errado, à luz daquilo que era justo e bom, e se opunha àqueles que praticavam atos contrários. Alguns, aqueles que ainda não estavam tão próximos do abismo, ela poupava – não sem antes lhes inflingir o punimento devido. A maioria, entretanto, já havia caído neste buraco sem fim. Estavam além da salvação.
Herthanael estava aprendendo que haviam muitos como os orcs. Muitos que também só viviam para destruir e causar sofrimento. Queria servir a Torm também. Queria ser um instrumento de sua vingança.
(continua…)
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